domingo, 16 de outubro de 2016

Desabafo

Segundo João Paulo II a violência destrói o que ela pretende defender: a dignidade da vida,a liberdade do ser humano,concordo plenamente,pois a violência sofrida por minha família,nos tornou prisioneiros,mesmo diante da beleza da natureza como nesta imagem,existem grades para nos aprisionarmos,nossa dignidade foi enterrada como indigente,da mesma forma que meu pai e meu irmão foram.
Mesmo apos 20 anos continuamos acorrentados pela aquela tragedia que nos destriu,fico a imaginar se não seria melhor termos morridos todos,falo do corpo pois a materia esta morta a 20 anos.Minha mãe se tornou uma refém dela mesmo,dos pensamentos tristes,da incapacidade de não ter podido enterrar um filho,de poder sentir o luto,eu depois daquele dia ainda não consegui olha-la nos olhos,não tenho força para isso,pois seus olhos so refletem tristeza.Meu irmão Eder uma criança na epoca,perdeu sua referencia nosso pai,cresceu um adolescente rebelde e revoltado mas que graças a Deus,hoje se tornou um grande homem.
E o que falar de mim,uma adolescente de 15 anos,idade tão esperada pelas meninas,eu sonhava com meus 15 anos de outra forma,com a festa,com o bolo e com a valsa que é claro dançaria com ele mas infelizmente além de não ter tido essa festa,perdi meu par para a valsa e o pior de tudo que perdi para o resto da vida e alem disso tive que amadurecer naquele momento,pois sabia que minha mãe iria precisar demais de mim.
Lembro que naquele momento de sofrimento,de angustia e terror,minha mãe queria proteger eu e meu irmão,queria nos esconder em algum lugar mas eu dizia sempre a ela que iria aonde ela fosse e assim aconteceu,juro que não sei aonde encontrei forças,sempre com a esperança que tudo aquilo seria um pesadelo e que iriamos acordar a qualquer momento mas infelizmente esse pesadelo ja dura 20 anos.
hoje eu sei que nada acontece por acontecer tudo tem um proposito,sei que se eu fiquei viva foi para ser o braço direito de minha mãe,hoje eu sei que ela precisa muito de mim,sei que poderia ter feito mais,porem também me sinto fraca,impotente.
Tem momentos marcantes da minha vida que sofro mais ainda porque gostaria muito que eles estivessem presentes,um desses momentos foi quando me formei e tentava buscar ele em algum canto do auditório e ele não estava la ( pausa para chorar),logo ele que me chamava de doutora,sei que ele se orgulharia muito de mim.
Meu pai saiba que aonde quer que você esteja,eu irei te amar alem da vida,você foi um grande homem,não veio ao mundo por vim,veio pra transformar vidas,seu legado aqui na terra foi muito lindo,meu irmão você^foi um guerreiro,não sai da minha cabeça que você morreu por mim,pois eu me ofereci pra ir e eles não me levaram e ai você foi.
Eu lutarei ate o fim para que nossa família seja indenizada,sei que vocês não irão voltar mais e que dinheiro não ira apagar das nossas mentes tudo que passamos porem minha mãe merece uma velhice digna.

“Criem vergonha na cara”, revolta-se


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Filha de “Baiano” cobra mudança de postura do MP
O secretário de Direitos Humanos no Acre, Nilson Mourão, informou que vai descobrir quem fez promessas à esposa e os filhos sobreviventes de Agilson Firmino dos Santos, o “Baiano”, assassinado em 1996, quando teve parte dos braços e pernas decepados por uma motosserra.
A decisão do secretário foi incentivada pela entrevista exclusiva que a filha de baiano concedeu a TV Gazeta. Na gravação Emanuela Firmino, conta o sofrimento da família nos dias dos crimes em julho de 1996 e como conseguiram sair fugidas do Acre para não morrer.
O secretário prometeu entrar em contato com Emanuela para saber quem fez as promessas. “A família já sofreu demais, não dá para brincar com esse assunto. Vamos saber quem disse que seria possível os pagamentos e cobrar que tome as providências”, falou.
“Baiano” e um dos filhos de 13 anos, Wilder Firmino dos Santos, foram mortos por membros do esquadrão da morte por ordem de Hildebrando Pascoal, que estava vingando da morte do irmão Itamar Pascoal morto a tiros por um amigo de “Baiano”.
Depois de ver a barbaridade que fizeram com os corpos, Emanuela, a mãe e o irmão de 12 anos tiveram que se esconder por uma semana na casa de uma amiga até que conseguiram fugir do Acre. Na época, ainda procuraram a secretaria de Segurança Pública, mas delegados e policiais disseram que não podiam fazer nada.
Passados 20 anos dos crimes, Emanuela que na época tinha 15 anos decidiu falar e cobrar uma pensão vitalícia do Estado.
Em 2009, quando houve o julgamento do Caso Baiano, a família veio para o Acre onde prestou depoimento. Os promotores do caso prometeram lutar por uma indenização e uma pensão vitalícia.
Segundo Emanuela, a promessa nunca foi cumprida e hoje não conseguem falar com os promotores. “Na época das mortes, a omissão das autoridades acrianas revolta. Hoje, eles falam em ‘virar a página negra da história de crimes do Acre’. Como estão fazendo isso, se não pagam nossa indenização? Nunca nos ajudaram em nada! Quando saímos do Acre, deixamos tudo para trás. Até hoje não nos recuperamos. Criem vergonha na cara e nos indenizem”, exigiu.
Nos últimos três meses, o Ministério Público do Acre não responde os e-mails de Emanuela. Por isso, decidiu quebrar o silêncio duas décadas para cobrar o que tiraram da família.
“O meu irmão e o meu pai foram mortos por servidores públicos usando o aparato do Estado. Por isso, devemos ter do Governo do Acre alguma consideração”, disse revoltada.
Sabendo que Hildebrando foi beneficiado com o regime semiaberto, Emanuela se irrita ainda mais. Segundo ela o homem responsável pela dor e perda da família vai ficar livre e eles nunca conseguiram se recuperar emocionalmente e financeiramente.
A pensão vitalícia foi uma proposta do MPE, diz Emanuela, e dividiu os valores assim: R$ 1,8 mil para Evanilda Firmino esposa de Baiano e R$ 900 para cada um dos filhos.
A equipe de AGazeta.Net procurou o MPE. A promotora responsável pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, Marcela Ozório, informou que não vai se manifestar sobre o assunto, pois não atuou no caso.

“Caso Baiano”: a história de uma omissão de Estado

Após 20 anos, uma filha revoltada cansou do silêncio

Passados 20 anos do assassinato mais brutal do Acre, a filha de Agilson Firmino dos Santos, o homem que teve parte dos braços pernas amputados por uma motosserra, decidiu quebrar o silêncio e falar detalhes da tragédia que a família viveu e cobrar das autoridades do Estado a promessa de uma pensão vitalícia.
Emanuela Firmino, hoje com 35 anos, tenta levar uma vida normal, mas é difícil para ela, a mãe de 60 anos e o irmão Eder Firmino dormirem sem ter pesadelos.
A história do “Crime da motosserra”, como ficou conhecida, começa num domingo às 11:00hs no dia 30 de junho de 1996. Itamar Pascoal, irmão de Hildebrando Pascoal, é morto em um posto de combustível no bairro Bosque depois de uma discussão.
O atirador é José Hugo Alves. Ele não aceita um tapa no rosto e atira com um revólver no peito de Itamar, que morre na hora. Junto com Hugo, dentro do carro assistindo a tudo, sem nada poder fazer, estava o seu amigo: Agilson Firmino dos Santos, conhecido como “Baiano”.
Os dois sabiam que tinham mexido com a família errada e fogem do local. Começa uma das maiores perseguições da história da polícia acriana. Hugo conseguiu sair do Estado, mas “Baiano” é capturado logo no dia seguinte em Sena Madureira.
Na caçada, antes de chegar à vítima, um grupo de policiais ligados a Hildebrando vai à casa de “Baiano” onde estava a esposa e três filhos menores. A mulher Evanilda Lima de Oliveira é levada para o quartel da PM com a desculpa de que o marido tinha sofrido um acidente. Quando volta à noite para casa descobre que o filho de 13 anos, Wilder Firmino de Oliveira, também tinha sido levado por policiais.
Esses detalhes são revelados pela filha mais velha, Emanuela Firmino de Oliveira, que não quer mostrar o rosto e nem contar onde reside atualmente. Ela resolveu quebrar o silêncio e contar os horrores que a família viveu, mexer em cicatrizes psíquicas que atormentam a mente dos sobreviventes da tragédia.
“Se eu viver mil anos nunca esquecerei o terror que vivi no Acre. Perdi de forma bruta meu pai e meu irmão e por pouco toda a família não foi dizimada”, reclamou.
Na mesma noite em que o pai e o irmão não voltaram, mãe e filha saíram em busca dos dois pelas delegacias e hospitais sem conseguir notícias. Na segunda-feira, dia primeiro de julho, elas notam que estão sendo seguidas.
Policiais chegam a abordá-las e ameaçá-las. Segundo Emanuela, foi nesse momento que descobriu que o irmão e o pai estavam prestes a perder a vida. “A gente até aquele momento ainda não tinha entendido o que aconteceu. Não sabíamos até que ponto meu pai estava envolvido na morte do Itamar. Nosso desespero só aumentou e ficamos com medo de perder a vida”, falou.
Nesse mesmo dia, “Baiano” é capturado e levado para um barracão no bairro Estação Experimental, onde hoje é um estacionamento. O imóvel pertencia a Alípio Ferreira, que depois será eleito vereador de Rio Branco.
No banheiro do barracão, “Baiano” ficou algemado e passou por todo tipo de tortura. Os olhos são perfurados, um prego é colocado na testa. Mas, o terror acontecerá com os braços e pernas que serão amputados com uma motosserra.
“Eu vi meu pai um dia antes de tudo acontecer. Ele parece que estava adivinhando a morte. Disse para mim: lute por tudo que você desejar, não desista. Foi a última coisa que ouvi dele. Depois só vi fotos de meu querido pai sem pernas e braços. Imagina para uma adolescente absorver tanta violência com alguém que você ama”, disse chorando.
Na terça-feira, 2 de julho, o corpo de “Baiano” é jogado em um terreno baldio na avenida Antônio da Rocha Viana. É pelo rádio que Emanuela, o outro irmão de 12 anos e a mãe vão descobrir que o pai foi assassinado. O locutor fala de um corpo com braços e pernas decepados. Eles não têm dúvidas: ainda vão até o IML. Mas, com medo, não entram.
Na época dos crimes, “Baiano” morava com a família no bairro Preventório. “Na terça-feira, saímos para o IML, mas, com medo, decidimos nos esconder. Nem voltamos para casa. Deixamos para trás documentos, fotos, roupas e todos os bens. Saímos pedindo ajuda, muitas pessoas não nos ajudaram porque também tinham medo da reação da família Pascoal. Apenas uma amiga deixou a gente ficar escondida por uma semana na casa dela”, contou.
Depois de uma semana escondida apenas com a roupa do corpo, parentes que moram na Bahia enviaram dinheiro para que comprassem passagens e saíssem do Acre.
Foi no esconderijo, dois dias depois, na quinta-feira, que veio a notícia da morte do garoto de 13 anos. Sem poder fazer andar, Evanilda e os filhos choraram baixo e continuaram agarrados uns aos outros.
O copo de Wilder foi encontrado na BR-364 entre Rio Branco e Sena Madureira. A coluna tinha sido quebrada; ácido foi jogado no peito da criança para dizer onde estava o pai. No final, ainda levou um tiro. O irmão de Hildebrando, Pedro Pascoal, foi condenado a 20 anos de prisão pelo assassinato do garoto.
A família de “Baiano” (ou que sobrou dela) conseguiu sair do Acre apenas com a roupa que estava vestida. Na época, Wilder e “Baiano” foram enterrados como indigentes. “Esse trauma dificilmente será superado. Minha mãe não que falar do assunto. Vinte anos depois, usa como proteção o silêncio. Ela tem 60 anos, mas quando a gente olha parece que tem 90”, comparou.
O julgamento
O caso “Baiano” só virá à tona com a prisão de Hildebrando Pascoal em 1999. Nem um inquérito policial foi feito em 1996. Um ano depois da morte de “Baiano”, a polícia decidiu encerrar o caso alegando que não existia nada que se indicasse o autor do crime.
Toda a cidade sabia quem era o corpo do homem que foi jogado no terreno baldio, por que tinha sido assassinado e os principais culpados, mas houve um pacto de silêncio entre as autoridades do Estado.
Um ano depois da morte de “Baiano”, dois agentes foram até o local e informaram no inquérito que tinham conversado com algumas pessoas. Como não conseguiram coletar informações, podiam encerrar o caso.
Em 2009, Hildebrando e mais oito pessoas foram julgadas pelo crime. Evanilda, Emanuela e o irmão Eder voltaram ao Acre depois de 13 anos. Eles contaram durante o depoimento o sofrimento que passaram e assistiram a Hildebrando contar que não tinha matado “Baiano” e que os braços e pernas foram cortados com um terçado por Alípio Ferreira, que tinha falecido sete anos antes do julgamento.
Ele contou que os membros foram cortados para retirada das algemas. “A pena de 18 anos para Hildebrando foi injusta. Ele acabou com uma família e mesmo assim a condenação foi pequena. Quanto aos outros envolvidos, tem deles que foram até absolvidos. Não interessa correr atrás dessa história. Não vai trazer meu pai de volta”, criticou.
O que mais revolta Emanuela é que passados todos esses anos nunca receberam uma ajuda. Quando soube do sumiço do irmão, ela e a mãe ainda procuraram a secretaria de Segurança.
Na época, disseram que nada podiam fazer. “Quando chegou o período do julgamento, o Ministério Público prometeu conseguir uma pensão vitalícia no valor de mil e oitocentos reais para a mãe e novecentos reais para cada um dos filhos”. A promessa não foi cumprida e hoje ela nem consegue falar com os promotores e procuradores do caso.
Mais três acusados pela morte de “Baiano” ainda serão julgados: Pedro Pascoal, irmão de Hildebrando, e os primos Amaraldo Pascoal e Aureliano Pascoal, que, na época, era comandante da Polícia Militar.