sábado, 3 de novembro de 2012

CRIME DA MOTOSERRA

02/03/2012
às 14:00 \ Política & Cia

Único deputado preso do Brasil, Homem da Motosserra pode adiar a extinção da espécie com a ampliação do prontuário

Hildebrando Paschoal, o monstro da motosserra, não pode sair da cadeia
Hildebrando Paschoal, o monstro da motosserra, não pode sair da cadeia (Foto: CEDOC)
Júlia Rodrigues
Depois do mico-leão dourado e da ararinha-azul, a lista das espécies extintas seria empobrecida em 2014 com a perda de outra raridade da fauna brasileira: o deputado-preso. Graças a mais uma trapalhada de Hildebrando Pascoal Nogueira Neto, o único exemplar conhecido, o sumiço vai demorar um pouco mais.
Condenado a mais de cem anos de cadeia por crimes que envolvem homicídio, sequestro, formação de quadrilha, narcotráfico e delitos eleitorais e financeiros, Hildebrando seria beneficiado pela norma que limita a 30 anos o tempo máximo de permanência no cárcere e por fórmulas jurídicas que reduzem a duração da pena. Em novembro, contudo, o ex-deputado federal resolveu ampliar o prontuário. E os cálculos terão de ser refeitos.
Aos 60 anos ─ há 12 na cadeia ─, o Homem da Motosserra, alcunha que ganhou pela arma usada para cometer seu mais famoso crime, driblou os controles da penitenciária de segurança máxima em Rio Branco para exercitar uma de suas práticas preferidas: a intimidação. Em 23 de novembro de 2011, enviou cartas à desembargadora Eva Evangelista, do Tribunal de Justiça do Acre, e à procuradora de Justiça Vanda Milani Nogueira, ex-cunhada do remetente.
Inconformado com a perda definitiva da patente de coronel da Polícia Militar, efetivada no fim do ano passado, Hildebrando exigiu que Vanda lhe enviasse mensalmente a quantia de R$ 6 mil “para que possa se manter e garantir sustento para os filhos e netos”. Ele atribui a punição à ex-cunhada e a Eva Evangelista, que atuou como juíza-revisora do processo. Hildebrando avisou que, se não for atendido, revelaria ao Conselho Nacional de Justiça e ao Ministério Público supostas irregularidades envolvendo as duas destinatárias.
Numa das cartas, o ex-coronel afirma que Vanda Milani entregou à desembargadora o gabarito das provas do concurso para ingresso no Ministério Público Estadual, o que teria facilitado a aprovação de Glicely Evangelista, filha de Eva (leia a íntegra das cartas). O Ministério Público do Acre instaurou um processo por extorsão e ameaça. A ampliação do prontuário pode garantir que o único deputado preso sobreviva ─ em cativeiro, marca inseparável da espécie.
Nascido numa família acreana poderosa desde o começo do século passado, Hildebrando tornou-se conhecido como comandante da PM e político bem-sucedido antes de ganhar fama como fora-da-lei. Em 1994, elegeu-se deputado estadual. Quatro anos mais tarde, conquistou uma vaga na Câmara dos Deputados com a segunda maior votação do Acre. A vida parlamentar foi bruscamente abreviada pela descoberta da vida criminosa iniciada em 1983, tão assustadora quanto a figura corpulenta, com 1,90 metro de altura. Em setembro de 1999, menos de um ano depois da posse, Hildebrando teve o mandato cassado e foi preso.
Sammy Barbosa Lopes, ex-procurador-geral do Acre e Coordenador do Grupo de Combate ao Crime Organizado, afirma que o Homem da Motosserra redistribuía cocaína contrabandeada da Bolívia. “Eles vendiam a droga no varejo”, diz Lopes. Além de apreender a droga encontrada com traficantes detidos, o grupo liderado pelo coronel também lucrava com um esquema batizado de Operação Marmitex. “Os criminosos entregavam cocaína em recipientes de marmitex”, conta o ex-procurador-geral. “Era uma maneira de comprar votos da população e garantir que Hildebrando continuasse no poder”.
Comandante da barbárie ─ Para avisar que não queria o esclarecimento de um assassinato, Hildebrando decepava a cabeça e as mãos das vítimas. Além de dificultar o reconhecimento do corpo, o horror adicional emitia o sinal: o mandante do crime exigia que fosse arquivado. O Ministério Público contabiliza 50 casos semelhantes entre as mais de 150 mortes atribuídas ao bando do ex-deputado ─ entre elas a de Agílson Firmino dos Santos, o Baiano.
Cartaz espalhado por Hildebrando
Cartaz espalhado por Hildebrando
Baiano foi executado em 1996 por agir em cumplicidade com José Hugo Alves Jr. no assassinato de Itamar Pascoal, irmão de Hildebrando e vereador em Senador Guiomard, a 24 quilômetros de Rio Branco. Hildebrando espalhou cartazes com a foto de José Hugo e a oferta de R$ 50.000 a quem fornecesse informações sobre o paradeiro do inimigo.
Por ignorar a localização do comparsa, o mecânico teve os membros lentamente decepados com uma motosserra. Os olhos fora extraídos quando ainda estava vivo. “No início, o Baiano só pedia para não morrer”, descreveu Ezequiel, codinome do pistoleiro que depôs na CPI do Narcotráfico. Hildebrando acompanhou o martírio de Baiano com notável prazer. “Ele chorava e dizia que era inocente”, lembra Ezequiel. “Ele estava deitado de costas, amarrado, quando cortaram os braços e as pernas dele. O tempo todo gritava que era inocente. O Hildebrando assistia a tudo friamente, como quem vê a matança de um animal. O Baiano continuava vivo mesmo depois de ter sido serrado. Pedia para morrer rápido”. Hildebrando finalizou a vingança desferindo diversos tiros contra a vítima. Wilder Firmino, de 13 anos, foi morto 48 horas depois. Motivo: era filho de Baiano.
José Hugo fugiu para o Piauí e deixou para trás a mulher, Clerismar, e dois filhos de sete e oito anos. Sequestrada por Hildebrando, a família de José Hugo escapou da morte graças a Sérgio Monteiro, então procurador da república no Acre. Ele comunicou a autoridades policiais paulistas que pistoleiros viajara com os reféns para São Paulo ─ todos com passagens pagas com dinheiro público. Ao desembarcar no aeroporto, os marcados para morrer foram libertados. O corpo de José Hugo foi encontrado em 1997, numa cova clandestina na divisa da Bahia com o Piauí.
Hildebrando Pascoal ainda não foi julgado pelo assassinato de José Hugo. Como o crime está prestes a prescrever, só o julgamento imediato do processo que tramita na justiça do Piauí poderia evitar a extinção da espécie. O deputado-preso compareceu a um tribunal pela última vez em maio de 2011, para defender-se da acusação de ter mantido em cárcere privado Clerismar e seus dois filhos. O crime rendeu a Hildebrando a sentença de 11 anos e 6 meses de reclusão. Mas estará em liberdade daqui a dois anos se não for castigado pelas ameaças endereçadas à desembargadora e à procuradora de Justiça.
A vida reclusa em Antônio Amaro
Há cerca de dez anos, Hildebrando Pascoal vê o tempo passar na penitenciária Antônio Amaro Alves, considerada segura pela por restringir as visitas a filhos e cônjuges. Há um ano, havia mais vagas (182) que presos (145), o que facilita o trabalho de vigilância dos carcereiros. Hildebrando acorda às sete, toma café, almoça por volta de meio-dia, consome o começo da tarde no banho de sol de duas horas e volta para a cela que divide com outro detento. Tem duas camas, uma pia, um vaso sanitário e um chuveiro. Enquanto espera o jantar, distrai-se com livros, revistas e programas de TV. Dorme pelo menos oito horas e recomeça a rotina de um presidiário comum.
“Ele está sempre muito bem arrumado, com a roupa limpa e o cabelo penteado”, diz a promotora Joana D’Arc Dias Martins, da Vara de Execuções Penais do Ministério Público do Acre. Embora o presídio disponha de serviço médico, quem enfrenta problemas de saúde mais complicados costuma ser transferido para algum hospital de Rio Branco. Hipertenso, Hildebrando já se valeu desse direito numerosas vezes.

SEMPRE PESQUISANDO ACHEI ESTA INTERESSANTE REPORTAGEM

O Crime da Motosserra no banco dos réus.

Hildebrando Pascoal Nogueira Neto (Rio Branco, 17 de janeiro de 1952), conhecido popularmente como o Deputado da Motosserra, é um político brasileiro e ex-coronel da Polícia Militar do Estado do Acre.
27 de dezembro de 2007 -> Os sites de notícias e jornais impressos amanheceram o dia dando conta da data em que Hildebrando Pascoal irá a um novo julgamento, juntamente com outros, pelo famoso crime da motosserra.
Hildebrando tinha uma lista de crimes e condenações tão extensa quanto o número de vítimas executadas pelo esquadrão da morte que liderou. Mesmo preso, já condenado a mais de 80 anos de prisão por dois homicídios, tráfico internacional de drogas, formação de quadrilha e crimes eleitorais (trocava cocaína por votos) e financeiros, ele ainda assusta os acrianos. Quatro testemunhas do crime da motosserra foram assassinadas -Hildebrando foi condenado por duas dessas mortes.

A Impunidade! Cartaz distribuído pessoalmente por Hildebrando Pascoal. Assinado por ele. Telefone de contato e tudo. Um aviso contra os trotes.

Wilder Firmino, filho do Baiano, 13 anos. Seqüestrado, torturado e morto. Consta que torturaram o garoto queimando seu corpo com ácido para que indicasse o paradeiro do pai. Desse ato bárbaro participaram vários integrantes da família Pascoal.

Segundo o Ministério Público, o que motivou Hildebrando a matar Baiano (e a ordenar a morte do filho dele) foi o assassinato de um irmão do então deputado, Itamar.
“Baiano”. A vítima da motosserra. Foi encontrado assim:


Walter Ayala. Um policial Civil, conhecedor do submundo do crime,
que resolveu colaborar com Hildebrando. Foi brutalmente
assassinado dentro de um ônibus.

A repercussão dos crimes na imprensa acreana:

CPI do narcotráfico no Acre:




Hildebrando, preso:


A mega audiência:

Em muitos dos crimes cometidos pelo esquadrão de Hildebrando (investigadores estimam em quase cem mortes), não se conheceram as causas nem as explicações.
“Era uma espécie de assinatura do grupo: corpos decepados, mutilados, jogados no meio da rua”, conta o procurador Samy Barbosa Lopes, coordenador do grupo de combate ao crime organizado do Ministério Público Estadual.
Comitê Contra a Impunidade. A resistência
acreana dos movimentos sociais:




De acordo com a denúncia do Ministério Público (MP) do Acre, Sete Pascoal, irmão falecido de Hildebrando, além dos primos Amaraldo Uchôa Pinheiro e o coronel Aureliano Pascoal, então comandante da PM, também participaram da brutal e horrenda sessão de tortura, sob a liderança de Hildebrando Pascoal.
Os homicídios foram praticados com requintes de crueldade, mediante a provocação de intenso sofrimento físico as vítimas tiveram olhos perfurados, braços, pernas e pênis amputados com a utilização de uma motosserra.